01 - COMO SURGIU A IDEIA DE MONTAR A BANDA E COM QUE PROPÓSITOS?
R: A ideia da banda surgiu durante a pandemia,
em 2020. Eu (Lucas, guitarra e vocal) morava em Teresina-PI na época e o Dave
(baixo e vocal) chegou com a ideia de montarmos um projeto para ajudar a
superar o tédio e a tensão causados por aquele momento tão difícil para todos
nós. Nos conhecemos há quase 10 anos, quando ele ainda morava em São Luís-MA, e
temos um gosto musical com bastante coisa em comum.
Começamos a
rascunhar algumas ideias e o Dave sugeriu recrutarmos o Emiliano (baterista do
ROT e Arame) para esse projeto. Inicialmente, acreditávamos que ele gravaria o
primeiro EP e em seguida teríamos que procurar outro baterista, já que ele é
mais da escola da música extrema. Mas foi uma grata surpresa descobrir que ele
possuía várias influências melódicas também. Mudei para São Paulo em 2021 e a
partir daí a banda começou a tomar mais forma, realmente. A nossa ideia sempre
foi fazer um som direto, em português, sobre problemas que enfrentamos enquanto
indivíduos, os dilemas morais e ideológicos da vida adulta, desigualdades que
vemos escancaradas todos os dias em um grande centro como São Paulo,
enfim...tudo que nos angustia, de certa forma.
02 - COMO
DEFINEM A SONORIDADE DA BANDA?
Definir
nossa sonoridade é uma tarefa até meio difícil, visto que cada um possui
influências e escolas distintas. Mas posso dizer que nos encontramos em uma
mistura de diversos elementos, de diversas fases do punk rock e hardcore
melódico, e até algumas influências de grind que o Emiliano traz nas linhas de
bateria que compõe, o que na minha visão é um diferencial muito positivo para a
banda como um todo.
Punk rock,
hardcore melódico, emo...é difícil "rotular", entende? A gente sempre
busca trazer nossa própria identidade, sem pensar muito com o que vai parecer.
Até então, tem nos agradado bastante.
03 - COMO
ESTÁ A
ATUAL FORMAÇÃO?
Na formação
atual, estamos eu (Lucas Barbosa - guitarra/vocal), Dave Campelo (baixo/vocal),
Emiliano Borges (bateria) e Júnior Braga (guitarra), que entrou na banda antes
mesmo do nosso primeiro show. Júnior e Emiliano são amigos de infância e, um
dia, ele apareceu no ensaio pra acompanhar, curtiu o som e o Emiliano sugeriu
colocarmos ele na banda. A identificação foi imediata e achamos o elemento que
faltava.
04 - PODE
NOS DAR UMA APANHADO GERAL SOBRE O LANÇAMENTO DO PRIMEIRO EP DA BANDA
INTITULADO ¨VIVENDO NA SUJEIRA¨?
O
"Vivendo na Sujeira" foi composto antes mesmo do primeiro ensaio da
banda. Dave e eu compusemos as músicas de casa, virtualmente, por conta das
restrições impostas pela pandemia. Foi um trabalho pensado para fazer a banda
"existir", de fato. Tanto que só fui conhecer o Emiliano no estúdio,
no dia de gravarmos.
É um
trabalho que contém nossas duas primeiras composições: Sem Perspectiva e
Monstros. A primeira fala das pessoas em situação de rua e da realidade hostil
e injusta na qual elas vivem, e Monstros fala da elite branca, conservadora e
hipócrita que vem ganhando cada vez mais força no Brasil, principalmente após o
governo daquele que nem merece ter o nome citado.
05 - O QUE
MUDOU E COMO SOA O SEGUNDO EP DA BANDA INTITULADO ¨DEVASTADO¨ EM RELAÇÃO AO
PRIMEIRO EP?
De um modo
geral, posso dizer que o "Devastado" já veio um pouco mais maduro em
relação ao primeiro lançamento. Gastamos mais tempo compondo e ensaiando as duas
músicas que compõem o trabalho: Pareidolia e Pressa, que gravamos ainda como
trio, antes da entrada do Júnior. Nesse segundo registro, já estávamos com uma
sonoridade um pouco mais definida e a gravação soou melhor, pois já estávamos
bem mais entrosados.
Nosso
processo de composição funciona de uma forma bem conjunta. Normalmente, eu ou
Dave ou Júnior chegamos com um riff inicial ou uma ideia parcialmente
esquematizada e, a partir disso, nos reunimos os três para lapidar a música.
Uma vez fechada a ideia, fazemos uma pré de cordas e enviamos para o Emiliano
compor a linha de bateria.
Normalmente,
a gente compõe com uma letra já pronta. O Dave tem diversas letras guardadas,
então sempre temos quando precisamos. Nesse processo, vamos fazendo adaptações,
caso julguemos necessário. De modo geral, nossas letras tratam de vivências
pessoais e de mazelas sociais. Quem mora em São Paulo, diariamente se depara
com situações angustiantes às quais as pessoas são submetidas. Pessoas nas
ruas, dormindo no chão, morrendo de frio, de fome, sofrendo violência policial,
tudo isso vira tema de nossas letras, mas de uma forma mais introspectiva,
mostrando como nos sentimos em relação à nossa sociedade.
07 - VOCÊS
TEM TOCADO CONSTANTEMENTE AO VIVO? CONTE-NOS SOBRE ESTAS APRESENTAÇÕES?
Esse ano,
tocamos um pouco menos em relação ao ano passado. Isso porque, nos seis
primeiros meses do ano, demos prioridade ao processo de gravação do nosso
primeiro full, intitulado Lacuna, que traz oito músicas, sendo quatro antigas
que passaram por reformulações, e quatro composições novas, trazendo bem mais
nossa cara enquanto quarteto.
Os shows
que aconteceram foram bem marcantes para nós. A apresentação de lançamento do
Lacuna aconteceu no Rock Together Studio, em São Paulo, no começo de julho, e
também pudemos tocar em alguns lugares onde ainda não havíamos tocado, como o
FFFront, também em São Paulo. Neste ano, também fizemos nossa primeira
apresentação no Rio de Janeiro, na Audio Rebel, ao lado dos nossos amigos da
Triunfe, All The Postcards e Malvina, e também nos apresentamos em eventos com
uma premissa mais social, como o Discurso de Pobre Fest, em Diadema, e o Reação
Underground, na zona leste.
Felizmente,
temos percebido um público bastante receptivo, não necessariamente só do
hardcore melódico, mas também a galera do som extremo, do powerviolence, do
grind. Acredito que estamos conseguindo furar uma bolha e isso é importante.
08 - QUAL
SUA VISÃO DO MOVIMENTO PUNK EM SÃO PAULO?
Tem muita
coisa acontecendo em São Paulo. É uma cena onde tem muita gente se
movimentando. Fora do centro mesmo, tem uma galera muito boa se organizando,
montando banda, fazendo evento. Um exemplo são os já citados Reação Underground
e Discurso de Pobre Fest, este último chegando à sua décima edição, juntando
bandas de diversas vertentes e fazendo uma ação social muito bonita,
arrecadando brinquedos para serem distribuídos para as crianças. Nesse ano, os
brinquedos foram doados pra molecada do Paraisópolis e, pra nós, esse é o real
sentido do punk: esse senso de comunidade.
São eventos
e bandas que trazem discussões importantes, reforçam o ideal do "faça você
mesmo", do antifascismo, que é o que deve realmente ser mantido dentro de
uma cena punk. Nos últimos anos, temos visto um aumento muito forte da
participação das mulheres e LGBTQIAPN+ na cena, e isso também é incrivelmente
importante, pois reflete a diversidade que defendemos e sentíamos falta.
Na nossa
visão, o punk parece atuar em diferentes núcleos aqui em São Paulo. É uma
cidade assustadoramente grande, isso sem contar os entornos, então acaba sendo
difícil sacar tudo que tá acontecendo. Mas o que conseguimos acompanhar e
participar com certeza nos deixa muito felizes.
Sobre as
bandas preferidas, é até difícil dizer, porque temos influências e escolas
bastante distintas. Mas, acredito que posso falar por todos, temos algumas boas
influências em comum, como Samiam, Street Bulldogs, Chuva Negra, Iron Chic,
Statues on Fire, entre outras.
E
obviamente, também tem aquelas influências clássicas, né?! Ramones, Clash,
Cólera, Napalm Death, que apesar de não se refletir no nosso som como um todo,
é algo de que gostamos muito.
10 - ESTÃO
TRABALHANDO ALGO NOVO PARA LANÇAMENTO? QUE PODE NOS ADIANTAR?
Estamos
sempre compondo coisas novas, explorando novas possibilidades. Algumas ideis já
estão em andamento para um possível registro no ano que vem. Hoje, muito mais
entrosados, nosso processo de composição acaba sendo mais fácil, então sempre
sai muita coisa. Uma das composições novas, chamada "Sacrifício", já
está no setlist dos nossos shows, inclusive.
11 -
OBRIGADO PELA ENTREVISTA. ALGUM COMENTÁRIO FINAL?
A gente é
quem agradece pelo espaço e pela oportunidade de ter esse bate-papo. A quem se
interessou, nos procure nas redes sociais (@angvstia.oficial no Instagram) e
fique ligado nas novidades. Além disso, estamos em todos os streamings, então é
só procurar no seu preferido. Encostem nos shows, colem pra trocar ideia, vai
ser daora.